Uma das definições de inteligência que mais gosto é: "capacidade de percepção intuitiva". Embora curta, essa definição oferece uma compreensão profunda do que chamamos de "inteligência".

Desde pequenos, somos incentivados a exercitar e aprimorar essa capacidade. Aprendemos sobre números, linguagem e fenômenos da natureza. Quando crescemos, exploramos temas como persuasão, filosofia e pensamento matemático. Ao final do colégio e início do ensino superior, o foco é na repetição: resolvemos dezenas, até centenas, de problemas semelhantes. Essa jornada nos ajuda a criar "modelos mentais" que usamos para resolver problemas mais rapidamente, além de fortalecer nossa imaginação para enfrentar problemas "novos" – aqueles para os quais ainda não estamos preparados.

Recentemente, deparei-me com uma pesquisa interessante que me fez refletir novamente sobre o tema. O estudo analisou a capacidade de pessoas comuns e experts em xadrez de memorizar posições das peças no tabuleiro. Como esperado, os experts memorizavam as posições de forma muito mais eficaz. No entanto, essa habilidade só se manifestava quando as posições das peças faziam sentido em uma partida real. Quando as peças eram distribuídas aleatoriamente, a capacidade de memorização dos experts se igualava à das pessoas comuns.

O mesmo acontece com a estratégia empresarial: geralmente, os problemas não são inéditos. Os frameworks consagrados (e até alguns mais "obscuros") têm um enorme potencial para auxiliar na tomada de decisão – em outras palavras, para nos tornar mais inteligentes. No início da minha carreira como consultor, apaixonei-me pelo estudo desses frameworks. Existe uma vasta diversidade de frameworks que podem ser utilizados em diferentes situações, capazes de explicar o momento atual da empresa, identificar riscos e oportunidades e iluminar os próximos passos para o crescimento.

Meu cinto de utilidades

Os frameworks funcionam como um "cinto de utilidades": ferramentas de rápido acesso na memória que ajudam a resolver tarefas que, de outra forma, poderiam levar muito tempo ou não serem resolvidas.

Abaixo, listei os principais frameworks que utilizo no dia a dia quando o assunto é estratégia:

Frameworks Estratégicos

No pouco tempo que estudei xadrez, uma coisa eu aprendi: estratégia se resume a posicionamento. Frameworks estratégicos são aqueles que nos ajudam a compreender melhor o ambiente competitivo (o "tabuleiro") e onde a empresa está posicionada e se esta posição é adequada.

Estratégias Genéricas de Porter

Definidas por Michael Porter, essas estratégias incluem liderança em custo, diferenciação e enfoque, permitindo que as empresas escolham como competir no mercado. É um framework simples, mas extremamente poderoso.

5 Forças de Porter

Também desenvolvido por Porter, este framework analisa a competitividade de uma indústria através de cinco forças: concorrentes, novos entrantes, poder de fornecedores, poder de clientes e produtos substitutos.

5 Abordagens Estratégicas

Trata-se de um framework que posiciona a empresa de acordo com duas dimensões do mercado em que a empresa está inserida e uma relacionada a situação da empresa: previsibilidade, flexibilidade/maleabilidade e severidade (disponibilidade de recursos).

Licenças Estratégicas

Um framework que define três níveis de estratégias empresariais essenciais: "Licenças para vencer", elementos estratégicos que diferenciam a empresa; "Licenças para competir", facilitadores de crescimento e rentabilidade; e "Licenças para operar", requisitos mínimos focados em eficiência operacional.

Frameworks Táticos

Dada a posição que definimos ser ideal para nossa empresa, precisamos definir como chegar lá. Frameworks táticos são ferramentas que auxiliam na execução das estratégias definidas, focando em ações de médio prazo que suportam os objetivos estratégicos. Eles ajudam na implementação de planos e no monitoramento do progresso.

Matriz BCG

A Matriz de Boston Consulting Group classifica produtos ou unidades de negócio em quatro categorias (vacas leiteiras, estrelas, abacaxis e interrogações) para decidir onde investir e desinvestir.

5 P's de Marketing

Este framework abrange Produto, Preço, Praça, Promoção e Pessoas, oferecendo uma visão abrangente para a formulação de estratégias de marketing eficazes.

Framework de Maturidade (Damodaran)

Trata-se de um dos meus frameworks prediletos, embora não seja tão conhecido. Ele divide o ciclo de vida de uma empresa em estágios de maturidade, permitindo identificar quais os principais objetivos para cada estágio. Além disso, o framework traz diversas diretrizes, que vão desde estilos de liderança até principais armadilhas de cada estágio.

Portfólio de Inovação

Trata-se de um framework que divide o portfólio de inovação em dois: portfólio de 'descoberta' e portfólio de 'exploração'. Ele oferece uma abordagem pragmática para conduzir a inovação empresarial através desses dois portfólios.

Frameworks Operacionais

Frameworks operacionais são ferramentas práticas que auxiliam na gestão e análise das operações da empresa, garantindo eficiência e eficácia na execução das atividades. Uma vez definido o "como", esses frameworks permitem entender "o quê" precise ser feito.

Cadeia de Valor (Porter)

Analisa as atividades da empresa desde a produção até a entrega ao cliente, identificando oportunidades para aumentar o valor e reduzir custos.

McKinsey Transformation Index

Trata-se de um framework que avalia a maturidade de transformação de uma empresa em competências essenciais como desempenho financeiro, saúde organizacional, foco no cliente, capacidades de talento e impacto ESG, fornecendo uma linha de base diagnóstica para identificar áreas de melhoria​.

4 Ações (Blue Ocean)

Parte da estratégia do oceano azul, este framework ajuda a criar novos espaços de mercado, eliminando e reduzindo fatores irrelevantes e aumentando e criando fatores diferenciadores.

Pain-Frequency Matrix

Todo produto visa sanar uma dor. O Pain-Frequency Matrix é um framework muito interessante, embora menos conhecido, que avalia essas "dores" considerando sua frequência e impacto. Ele ajuda a entender se um produto realmente resolve problemas relevantes, garantindo foco nas questões mais críticas para maximizar a entrega de valor - é um framework essencial para startups.

Ferramentas "Coringa"

Além dos frameworks acima, existem ferramentas que são altamente versáteis e podem ser aplicadas em diversos contextos estratégicos, táticos e operacionais.

Análise SWOT

Identifica forças, fraquezas, oportunidades e ameaças da empresa, fornecendo uma visão clara do posicionamento estratégico.

Cascata de Escolhas

Ajuda na tomada de decisões estratégicas, sequenciando as escolhas de forma lógica e estruturada para alcançar os objetivos desejados.

Balanced Scorecard

Transforma a estratégia em objetivos mensuráveis, distribuídos em quatro perspectivas: financeira, clientes, processos internos e aprendizado e crescimento.