A motivação no trabalho talvez não funcione como você pensa
A Teoria de Motivação-Higiene de Herzberg foi uma das primeiras teorias de gestão com que tive contato, e continua a ser uma das mais poderosas para explicar diversos aspectos da motivação no trabalho. Essa teoria, desenvolvida por Herzberg em 1959, ainda é extremamente relevante nos dias de hoje. Herzberg nos oferece um framework simples e prático para avaliar a nossa própria motivação no trabalho e a dos nossos colegas.
Fatores Higiênicos vs. Fatores Motivadores
De acordo com Herzberg, existem dois tipos principais de fatores que influenciam a motivação no trabalho: fatores higiênicos e fatores motivadores.
Fatores Higiênicos
Os fatores higiênicos são aqueles que, se ausentes ou inadequados, causam insatisfação no trabalho. No entanto, sua presença não é suficiente para levar à satisfação ou motivação. Exemplos de fatores higiênicos incluem:
- Condições de Trabalho: O ambiente físico onde trabalhamos.
- Salário: A remuneração que recebemos pelo nosso trabalho.
- Políticas da Empresa: As regras e normas que regem nosso comportamento no trabalho.
- Relacionamento com Supervisores e Colegas: A qualidade das interações com os outros.
Fatores Motivadores
Os fatores motivadores são aqueles que realmente estimulam a satisfação e motivação no trabalho. Eles estão ligados ao conteúdo do trabalho em si e ao desenvolvimento pessoal e profissional. No entanto, na ausência (ou má gestão) dos fatores higiênicos, os fatores motivadores "perdem seu poder". Exemplos de fatores motivadores incluem:
- Reconhecimento: Sentir-se valorizado e reconhecido pelo trabalho realizado.
- Realização: A sensação de fazer um trabalho significativo e alcançar objetivos.
- Crescimento: Oportunidades de desenvolvimento e avanço na carreira.
- Responsabilidade: Ter autonomia e controle sobre o próprio trabalho.
Fatores Higiênicos e Motivadores
Em sua pesquisa, Herzberg entrevistou milhares de pessoas para definir os principais elementos higiênicos e motivadores no trabalho.
Diferente do que poderíamos imaginar, a remuneração está em 5º lugar no fatores Higiênicos. Administração, políticas, relacionamento e condições gerais do trabalho acabam tendo o impacto mais significativo no que chamamos de higiene.
Em contrapartida, é evidente como a complexidade e desafio no trabalho podem ser fontes de motivação. As conquistas, o trabalho em si (a natureza e sua complexidade/desafio), reconhecimento e responsabilidade são, de certa forma, inerentes a tarefas mais complexas e desafiadoras - e podem ser inseridas em diversos contextos.
A teoria na prática
A aplicação prática da Teoria de Herzberg pode transformar a dinâmica de uma equipe. Primeiro, precisamos diagnosticar a motivação no ambiente de trabalho. Isso pode ser feito por meio de entrevistas, pesquisas de satisfação e observação.
Diagnóstico de Motivação
Não há motivação sem higiene. Portanto, é necessário, antes de tudo, identificar se há fatores que estão impactando negativamente a motivação e endereçá-los prontamente. Para isso, fazer as perguntas abaixo (ou similares), pode ajudar a realizar um diagnóstico da situação:
- Os funcionários sentem que são remunerados adequadamente e têm boas condições de trabalho?
- As políticas da empresa são justas e bem comunicadas?
- Há um bom relacionamento entre colegas e supervisores?
Estratégias para Melhoria
Com base no diagnóstico, pode-se partir para a implementação de ações para melhorar os fatores higiênicos e aumentar os fatores motivadores:
- Melhorar as Condições de Trabalho: Garantir que o ambiente físico seja confortável e seguro.
- Revisar Salários e Benefícios: Oferecer remuneração justa e competitiva.
- Comunicar Políticas Claramente: Assegurar que todos entendam as regras e normas da empresa.
- Promover o Reconhecimento: Estabelecer programas de reconhecimento e recompensa.
- Aumentar a complexidade, impacto e responsabilidade: Gradativamente aumentar a responsabilidade e adicionar tarefas mais complexas à rotina.
- Facilitar o Crescimento: Oferecer oportunidades de desenvolvimento e carreira.
Avaliando a Própria Motivação no Trabalho
A teoria de Herzberg não é apenas útil para gerentes e líderes; também é uma ferramenta valiosa para autoavaliação.
Fatores de insatisfação (que impedem que de fato fiquemos motivados) costumam ser óbvios. Insatisfação com remuneração, com a administração ou problemas de cultura nos impactam diretamente. A estratégia, nesses casos, é simples: conversar com um superior de confiança para sanar esses fatores é a linha direta de ação - em última instância, um movimento de carreira pode ser necessário.
Sanados esses problemas (ou na ausência deles), diversas estratégias podem ser implementadas para aumentar a motivação no trabalho. A minha predileta é a de introduzir elementos de melhoria contínua. Identificar oportunidades de melhoria, estudar e implementar propostas de solução acaba sendo uma forma poderosa de aumentar a motivação pois aumentam a responsabilidade, elevam o "trabalho em si" e, quando concluídas, não só levam à conquista e reconhecimento, como também acabam sendo oportunidades de crescimento (aprendizado).
Conclusão
A Teoria de Herzberg oferece uma abordagem prática para entender e melhorar a motivação no trabalho. Ao aplicar essa teoria, podemos criar ambientes de trabalho mais satisfatórios e produtivos, tanto para nós mesmos quanto para nossas equipes. É muito importante lembrar que, embora os fatores higiênicos sejam essenciais para evitar a insatisfação, são os fatores motivadores que realmente impulsionam a satisfação e a motivação.